terça-feira, julho 13, 2010

Outro

Blogs pessoais estão ultrapassados. Depois de um jejum de sete meses, estou de volta, colocando palavras aqui, nem sei por que. Não sei se alguém vai ler mais, se vai se lembrar do endereço, se ainda, de fato, me conhece... O que importa, agora, é que eu posso olhar para muitos desses posts e enxergar um pouco dos fluxos de ideias que permearam a minha vida e me tornaram um pouco do que sou agora. E que, daqui a um tempo, vão me fazer outro.

E outro, e outro, e outro...

quarta-feira, dezembro 02, 2009

Macabismos

A vida havia deixado-a assim, distante de qualquer desejo. No fundo, talvez ainda soubesse acreditar... Tanto trouxa que era, insistia em ultrapassar a barreira do palpitável para desaprender... desaprender que o sonho não era só sonho, mas que podia um dia acontecer.
Era coitada e sempre se fodeu. Feia, gorda e tinha espinhas. Não era nerd, não fez o curso que queria, nunca passou de ano fácil. Era boba, desengonçada, não tinha amigos e nunca havia tido um amor correpondido, exceto aquele materno - que, num caminho inverso, tornou-se platônico quando ainda tinha apenas quatro anos.
Vida macabéa que vivia, contava as horas simplesmente para saber o que ia acontecer no dia seguinte - mesmo tendo a certeza de que seria sempre o mesmo, o lugar-comum.
Cansada de viver na merda, matou-se.
Se jogou na linha do trem do metrô Sé. Foi tão burra que chegou ao hospital com vida - posto que, ao invés de se arremessar no começo da plataforma, optou pelo meio, onde tinha mais gente, o que poderia parecer um tanto mais confortante para o momento.


A única diferença que fez na vida dos outros foi quando morreu, como uma típica Macabéa dos nossos dias: atrasando a vida dos passageiros.
E, por fim, como toda boa personagem lascada e fodida, deixou uma lição de coragem: desistiu daquela que já havia, há muito tempo, desistido dela - a (bem mais que severina) vida.


terça-feira, setembro 01, 2009

No chance

É consenso dizer que nossas escolhas são feitas por nós mesmos e que vamos levar suas consequencias conosco para sempre. Mas será que isso é mesmo verdade? Eu sinceramente acho que é responsabilizar-nos demais por viver.
Tudo que eu menos queria era escolher. Justamente porque todas as escolhas que gostaria de fazer são ambiciosas demais. Eu não escolho escolher - sou obrigado a fazer isso. Onde se está, então, o livre arbítrio?
A única escolha que eu deveras queria ter acertado era viver ao extremo. Sem me machucar, claro - tendo, por assim, a felicidade como consequencia. Mas infelizmente todas as chances que temos de escolher ocorrem às cegas. para depois a gente tentar achar um sentido àquilo que aconteceu - isso justifica a essência da vida, bem banalizada como assim, humanamente, adoramos fazer.

sábado, julho 25, 2009

Skyscraper

Nunca me esqueço da primeira vez que ouvi Paul Banks, com PDA. Fiquei meio entorpecido e agoniado, juro. Mas ao mesmo tempo sabia que tinha gostado, bem sabia. E fui atrás, sedento por aquilo que não era - mas era - Joy Division. Não era porque já estávamos décadas à frente. Era porque era quase tão bom quanto. E veio Antics, e veio Our Love To Admire, e de repente eu só tinha ouvidos para Banks. Ele é a alma do Interpol e sua voz é a inquietação de que eu aprendi a gostar hiperbolicamente.

Me rendi. Porque Banks e seu Julian Plenti são, em tão pouco tempo, parte diária dos meus deleites.



sábado, junho 27, 2009

Acima de tudo, humano


Não deve ter sido fácil ter nascido negro, pobre, no subúrbio e ter visto sua vida mudar completamente num curtíssimo espaço de tempo. Não deve ter sido fácil ter de encarar câmera e flashes aos cinco anos de idade, quando mal se sabia o que estava fazendo. Muito menos ter de lidar com assédio, com a obrigação de levar um espetáculo aos fãs, de começar a ter fama e dinheiro. Não deve ter sido fácil ter 20 anos e já ser considerado um astro, um gênio da música. Não deve ter sido fácil encarar uma suposta (e talvez até provocada) "doença" que mudou completamente a sua aparência - que inverteu sua cor, que afinou suas expressões, que alisou seu cabelo. Não deve ter sido fácil ser Michael Jackson. Não mesmo.

E, tanto não foi fácil, como ele deixou grande parte de suas fraquezas à mostra, para quem quisesse ver. Desde sua inexplicável "doença" que o embranqueceu, até as cirurgias para tentar adaptar aquela nova fisionomia a um corpo e uma mente que não lhe pertenciam. Deixou a alegria de mostrar que era capaz de ter um filho quase se transformar em tragédia na varanda de um hotel em Berlim. Também, não soube lidar com tanto amor que sentia pelas crianças, pela juventude, por tudo aquilo que fora privado de viver. Não soube o que fazer com tanto dinheiro. Não soube dizer quando o que se queria eram somente segundos de privacidade, de descanso, de uma vida (apenas) normal da qual nunca pôde gozar.

Michael, acima de tudo, foi demasiadamente humano.
Fraco - como eu, como você, como qualquer um.

terça-feira, maio 19, 2009

Paixão

Apaixonar-se é como desaprender todos aqueles valores que nosso caráter sempre custou a assimilar. É tornar-se somente coletivo em detrimento do individual. É pensar com os olhos do outro, com os sentimentos do outro, com as impressões do outro. É desvalorizar-se em prol do outro. É perder eixos, é encher-se de dúvidas, é frustrar-se a cada atitude do outro. É alienar-se no pensamento monotemático que sempre é preenchido por momentos que remetam ao outro. É ser menos você, sentir-se menos você, diminuir-se ao menor valor que algum dia lhe fora atribuído.

Não dá pra não ser assim. Quando você for tentar desviar de uma paixonite, mais na frente você certamente vai dar de cara com uma maior, hiperbólica. E vai sim perder os eixos, regredir, desaprender.
É tipicamente humano.

terça-feira, abril 28, 2009

Trilha Sonora

Se este blog tivesse trilha sonora oficial, poderia ser facilmente uma das canções de Natasha Khan, mais conhecida como Bat for Lashes. Mas vou fazer diferente: não vou encher este texto de impressões pessoais sobre a cantora, vou deixar no ar, para cada um sentir a música como quiser...